data-filename="retriever" style="width: 100%;">Na edição de 8 e 9 de fevereiro escrevi neste espaço sobre coronavírus e meus temores com desatinos nas reações de pessoas em pânico. Até ironizei ao final: "... que ninguém assassine o seu vizinho porque espirrou".
A chegada da pandemia no Brasil obriga-me a tratar do novo cenário e da resposta de autoridades, instituições, profissionais da saúde e sociedade ao vírus.
Inicialmente, o primeiro mandatário da República agiu de forma errática e em desacordo com suas responsabilidades. Menosprezou a preocupação de especialistas e autoridades. Ironizou, duvidou das evidências, falou de festinha de aniversário, açulou manifestações contra outros Poderes. Externou fantasias e mania de perseguição: governadores e prefeitos estariam restringindo a circulação de pessoas para causar crise econômica e derrubá-lo (tem fixação no tema do golpe, talvez por ele pensar em soluções autoritárias).
Outro que iniciou errado foi o poderoso da pasta da economia, concentrado no modelo teórico liberal cuja cartilha estrutural de longo prazo é sua única preocupação, enquanto a realidade demandava medidas práticas para minorar os efeitos catastróficos sobre a vida pessoas, do trabalho e dos empreendimentos. Cobrou do Congresso coisas como autorizar a privatização da Eletrobrás, para exemplificar. Tema que divide opiniões e tem resistências no Legislativo. Digamos que fosse rapidamente aprovado: qual efeito sobre a crise do coronavírus? Nenhum. A privatização demoraria meses para ser concretizada e se feita em momento de baixa extraordinária das ações, o País perderia muito dinheiro. A evolução dos fatos e a gritaria de setores que lhe são caros acordaram-no para agir na direção necessária!
Em meio às dúvidas e vicissitudes estamos reagindo, preparando para o que vem, tentando reduzir a velocidade e o volume da contaminação. O melhor da nossa ciência se faz presente. Lembraram-se da importância de termos um Sistema Único de Saúde, organizado nacionalmente. E as autoridades erráticas buscaram, enfim, suturar os rasgos antes feitos.
Sou por seguir as orientações básicas dos especialistas e cada pessoa aplicar dose de bom senso nesta brutal contingência: a do isolamento. Atividades cessando, convívios tendo distanciamento físico. Vai ser um enorme passivo social e econômico, do ambulante sem conseguir renda, do trabalhador perdendo emprego, à empresa em risco de falência.
Mas, também educação e cultura prejudicadas. Crianças e idosos afastados, provavelmente com danos psicológicos. Famílias apartadas no espaço. Por isto, é preciso aprofundar e expressar afetos, fortalecer vínculos apesar do distanciamento físico. Avós não podem abraçar netos? É muito doloroso. Ao contrário de outros males, como guerras e tantas doenças que aproximam familiares, este é o vírus da solidão! Ali adiante, vencido o vírus, os que sobreviverem portarão severas marcas do isolamento.